terça-feira, 14 de setembro de 2010

A MORTE

A Fortaleza procura a armadura e não encontra. Despiu-se desta peça. Perdeu os medos e a racionalidade. Agora sente as conseqüências da doação mais sincera dos últimos anos. Ainda vê os sorrisos mais lindos, o óculos embaçado, o beijo que ensurdece, as frases soltas, a lágrima que caiu, o cd que não ouviu e a despedida que não houve...soma de momentos bons, como outros tantos, mas estes sem a dita armadura.
A Fortaleza sente a fraqueza que vai além do que pode suportar. A ferida fica em carne viva cada vez que abre o assunto. O analista puxa e não consegue estancar em 50 minutos de sessão o sangramento da falta de proteção. Ela entra no carro e vive um momento só dela. Pensa, corre, pensa, chora, sangra.
Assim, sem armadura e desprotegida dizem que ela fica incrivelmente mais bela, ela acredita. Usa as armas infalíveis. Veste a roupa mais linda, faz a maquiagem mais caprichada e sai. É seguida por olhares estonteantes, sente o brilho aceso novamente e diz não a quem se aproxima. Com seu lado mais antipático e sublime procura o que não quer ver e sente medo dessa aproximação.
De repente a dona das soluções, aquela a quem todos recorrem , estava vulnerável e como sempre, não sabe pedir ajuda. Recorre a academia, aos agitos, a agenda. O paliativo funciona bem por horas, incha o ego e a auto estima transborda, mas não é remédio, nem antídoto. Busca o alinhamento dos chakras, a terapia de florais e nas furadinhas da acupuntura a solução que não encontra na farmácia nem em lugar algum. Enquanto espera o atendimento ela escreve num pedaço de papel:
“Você morre um pouquinho todo dia. Leva um pouco do meu melhor junto com você, dilacera cada vez que algo remete a você ou que alguém abre a ferida. Dói saber que você perdeu uma grande história e dói muito mais saber que eu deixei de protagonizar nela. Dói ainda mais saber que doeu pra você. É a perda, é a morte e eu não sei bem lidar com isso, cheguei nesse mundo pra ganhar e sei que vou vencer é que a dor da morte é muito viceral pra quem perdeu a lata de proteção”.
Mesmo com ápices e nuances totalmente dicotômicas ela segue a sua busca incessante pela lataria velha de aço. A vestimenta está entre os destroços do caminho. Recolhe uns pedaços aqui, outros acolá. Compra cola e questiona se volta mesmo a ser a Fortaleza Real ou se vive melhor em carne e osso.

Por Paula Tubino