quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O CARA

Por Paula Tubino

Ele é exímio nos cuidados comigo. Ainda cuida do meu carro como ninguém. Resolve tudo o que eu acho chato. Considera meus defeitos e sobrepõe minhas qualidades. É lindo, magro, estiloso e o melhor palhaço que alguém pode ter pela manhã. Se escuta a voz trêmula do outro lado da linha pega uma avião e vem me ver, mesmo morrendo de medo dos ares e das minhas reações. Sim, esse cara existe e por ele fui pedida em casamento no transito, no restaurante, em casa, por mensagem, por telefone e mais algumas vezes olho no olho. Ficou com chave do meu carro e da minha casa algumas vezes e aproveitou pra encher meu quarto de flores e cartõezinhos. Ele é o máximo! Não fuma, bebe socialmente, sem filhos, não faz questão de sair sempre sozinho, tem fidelidade como uma premissa básica, meus amigos o adoram e, simplesmente desdobra-se para ser perfeito. Eu? Talvez não queira alguém tão perfeito assim. Procuro os defeitos e não acho, assim como procuro a minha admiração por ele: ZERO.
Recomendaria as amigas se não fosse meu ex, mas parafraseando Roberto Shinyashiki “Sem admiração não há solução”. Em uma semana ele pega o avião e volta a sua vidinha normal. Eu o levo ao aeroporto, beijo na despedida, abraço e aceno um tchau com ar blasé. Enquanto ligo o carro busco seu número na agenda do celular e  pronto! Apaguei pra sempre da minha vida. Página virada e sem volta