quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

VALISE

De Christine Tubino por Paula Tubino


Sartre já dizia: “A vida é  um exercício de  equilíbrio entre nossas escolhas e suas conseqüências.”

É bem verdade isso!!!

Com o perdão da expressão, tenho estado de saco cheio, chateada mesmo, de andar de malas pra lá e pra cá, sem um CEP para chamar de meu e nem mesmo o barco, que por algum tempo serviu de “home sweet home”.

Valise pra cá, valise pra lá... Adaptar a rotina a uma mala e acostumar com a impessoalidade de viver num  hotel, ou de viver no sistema que cada casa oferece. Tarefa difícil para uma ariana decidida, dona de ideias e vontades intempestivas, mas que acima de tudo adora receber e colocar preguinhos na parede, com molduras de espelhos.


Um desafio que me reporta a minha querida “tia Boneca” e, aos desejos de viver uma vida cigana, em palavras ditas por mim... Lá se vai cinco anos que eu vivo de valise...pra lá e pra cá. Não agüento mais!Rendo-me a um domicilio fixo, de onde, provavelmente, não vou querer mudar, pelo menos não tão cedo... Assim espero!!!

A esta altura da vida, sou  obrigada a reconhecer meu caráter cigano, que me fez mudar 27 vezes dentro do Brasil. Digna de um know-how invejado pelos mais acomodados.


Sendo assim a vida desta cigana, é que me encontro às 9h da manha, num café, em Paris, com um dia livre. Livre pra pensar e fazer o que quiser. Liberdade que enjoa e aprisiona a ideia corriqueira de ter um domicilio fixo.


Estranhamente preza a esta idéia, por detestar este “momento valise”, a cada loja que passo e em cada vitrine, penso em vocês todas... Mulheres da minha vida!!!


Passei pela GAP, olhando a vitrine e pensando na Dione e suas blusinhas e shortinhos claros. Vendo esta moda dos brilhos, lembro que minha filha Paula, como bela réplica de Oxum, bem gostaria de vestir dourado dos pés a cabeça, mas, sensata e de bom gosto , ela se limita ao “casaquinho de Natal”, algo que ela costuma vestir com preto e jeans, com um leve amarrado na frente e que muito lembra as decorações de natal que fiz por anos, enquanto tive casa.


Lembrando de Natal, evitei as lojas, pois, eu já penso nos presentes de final do ano e tempo livre é uma tentação ás compras. Peguei o sentido do Seine, vou aos Les Bouquinistes  e de nada adianta. Lá se encontram os melhores ateliês da alta costura francesa, em especial para casamentos. Foi então que o sonho da minha filha Roberta não saiu da minha cabeça e por algumas horas foi também o  meu sonho. Consegui encontrar o tal modelito, criado pela alta imaginação da minha filha caçula. Ele é de fato lindíssimo!!! A manequim da loja se dispôs a experimentar e desfilar pra que eu visse o caimento da seda... Lindo, mas me certifiquei que ele tem dois gravíssimos defeitos: - ao movimentar-se, realmente aparece muito mais que o colo e desnuda o busto. O segundo e irreparável defeito: Ele foge do meu orçamento... Completamente! Para carregar o modelito na minha valise teria de desembolsar a bagatela de 16 mil euros!!!


Imediatamente me ocorre outra idéia ... Vou ao “Quartier”,  nas lojas de tecidos!!! Peço o desenho do modelo e tudo isso segue rumo a China, pois lá são confeccionados por 500 euros e entregue em casa, com nenhum custo adicional e sem peso adicional as minhas malas viajantes!

Essa era uma super ideia para um belo dia de sol em Paris! E, alguém livre pra fazer o que quer, ainda que aprisionada na ideia contra as valises, segue o longo caminho. Ok!Eu gosto de caminhar e, lá vou eu, vendo a moda de verão em Paris, esperando ansiosa pela sua chegada, assim como as brasileiras aguardam as coleções inspiradas nas vitrines francesas.


Pela estrada a fora, rumo as lojas de tecido, vejo tudo de lindo e rosa e penso na mini-perua da família, minha afilhada,  a Bruna, claro. Não resisti e compro o primeiro presentinho. O segundo, cartão para o Bob, meu marido e que faz uma falta tremenda nesses dias solitários. Caio num magazine de coisas de casa e penso: Ai que vontade de ter uma casa! Tudo se amplia na minha contrariedade as valises, que por sua vez, também aumentam pois, já estou com três sacolas,  saldo de um dia livre em Paris...


Na volta, num momento  de reflexão entro na igreja e, como é a Igreja de Saint Germain, fiz foto e comprei uma moeda dele pra enviar a minha grande amiga e irmã Isabel!


O dia acaba com um lanchinho rápido num desses bistrôs peto de casa, melhor, próximo a morada que me acolhe no momento, o hotel de sempre, para onde regresso quando o dia acaba, tentando acomodar entre velhas e novíssimas malas, valises e necessaires parte da minha rotina física, essas coisas que carregamos pra lá e pra cá em viagens e que no meu caso já completa uma rotina de memórias fantásticas e chega a exaustão a carência de algo tão simples, como um CEP.

Cansada do dia todo na rua, deito na cama pensando quantas coisas posso fazer com esse tal “tempo livre”, a saudades que sinto de todas as mulheres que fazem parte da minha vida e a vontade de ter passado este dia livre com cada uma delas, ou com todas ao mesmo tempo...Que festa seria!

Bjs a todas as mulheres da minha vida!!!! De Chris Tubino

SER OU NÃO SER DE NINGUÉM?


Por Arnaldo Jabor....

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, nos bares, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.

Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois?
Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".

Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida....
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc. Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix".A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho.

Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada.
Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas.

Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.

Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter "alguém para amar".
Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram ( pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a ideia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras.

Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam.

A questão não é causal, mas quem sabe correlacional. Podemos aprender a amar se relacionando, trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos! E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.

Ser de todo mundo e não ser de ninguém é o mesmo que não ter ninguém também...É não ser livre para trocar e crescer...É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão.