terça-feira, 5 de outubro de 2010

NADINHA DE NADA

Por Paula Tubino

Saio de casa atrasada. Cara amassada, cabelo molhado, jeans, blusa branca básica e coletinho colorido, para inspirar a criatividade de uma dessas terças-feiras da vida. O óculos de sempre e um sapato baixo. Entro no elevador e escuto: “- Nossa como você está bonita hoje!”. Dirijo meu carro, cantarolando sozinha o som que não remete a ninguém e o cara ao lado grita um “linda”, que gera surpresa, risos e cora o rosto amassado. Na agência: “- Nossa, como você está bonita. Está com ares de quem está amando”. Durante o almoço: “ - Tanto tempo que não te vejo assim, tão radiante”. Volto ao trabalho rindo disso tudo e vou direto a copa: “- Mocinha, pode me contar, tem alguém novo na parada né?!” No supermercado, tentando entender a lista de compras, feita entre um semáforo e outro, acabo pisando no pé de alguém. O alguém olha, pede desculpas, sai atordoado, olha de novo e olha lá de longe mais uma vez. Meu ex-complicadíssimo liga e convida para jantar, pelo telefone. – Obrigada pelo convite, mas não vai dar. Ele diz que me viu pela rua esta semana, correndo no lugar de sempre e que mesmo suada e de tênis eu estava incrivelmente linda. Pergunta se estou com alguém e como está a vida. Eu? Estou ótima! Guardo em segredo a explicação que vem a mente instantaneamente: Nadinha de ninguém na vida. Nem um restinho do último, nem saudade de ninguém que se foi, nem de alguém que pode chegar. Ninguém ligando, nem lá em casa ou em qualquer outro lugar. É um fim de semana inteiro com o celular no silencioso, um tempo sem horário para acabar, dedicado a arrumar armários, ler o livro novo de cabeceira, passar as músicas para o Ipod novinho, para planejar a próxima semana... Um semana cheia de tempo pra meditação, acupuntura, pilates, academia, corrida as terças e quintas-feiras, almoços demorados, cabelo, unhas, viagens programadas. É um coração bombeando sangue limpo, para uma pessoa plena, feliz com o trabalho, com a casa, com os amigos. É uma agenda feita de coisas prazerosas, com momentos meus e só para mim. Não dividir uma vírgula disso com absolutamente ninguém é a explicação de tudo. É  sensação  de renascimento, de pós feriado, de casa nova. É fase nova.